ESG: uma “tendência” que existe há décadas

Environmental, Social and Governance

21/07/2021
Por: Naline Tres

A sigla ESG – Environmental Social and Governance – tem sido amplamente comentada no cenário dos negócios nos últimos tempos. São eventos, pautas, discussões, que vêm trazendo este tema com bastante relevância e dando a ele um importante destaque. Sem dúvidas o debate é importante tendo em vista o que a ESG representa e como ela pode fazer a diferença não apenas para as organizações, mas também no ambiente onde elas atuam.

Em tradução livre, ESG significa Meio Ambiente, Social e Governança Corporativa. Assim, a ESG abrange práticas adotadas pelas empresas que visam obter além do lucro econômico. São ações pensadas a partir da preocupação com o meio ambiente, observando os impactos positivos e negativos gerados pela organização, o lado social da empresa, sobre como ela se preocupa e se relaciona com seus colaboradores e com a sociedade e também sobre aspectos relacionados a boas práticas de governança corporativa. 

No Brasil também conhecemos esse conceito por RSC – Práticas de Responsabilidade Social Corporativa. A responsabilidade social corporativa (RSC) de acordo com Moir (2001) é um compromisso da empresa com as partes interessadas, no que diz respeito às questões éticas, contribuindo para o desenvolvimento econômico, sem deixar de lado os aspectos ambientais e sociais.

De acordo com Veber, Oliveira, Estivalete e Kneipp (2016) as organizações se tornam sustentáveis a medida que além da visão de obtenção do ganho econômico, se preocupam com os impactos ambientais e sociais gerados pelas atividades que desenvolvem. 

Carroll (1979) já dizia que a RSC não exclui o fato da empresa agregar valor econômico. Do mesmo modo, Freeman e Phillips (2002) destacam que a “história padrão” dos negócios que está associada a gerar valor econômico não é mais suficiente – isto dito no início do milênio – pois se faz necessário as organizações pensarem nos impactos sociais de suas ações.

Freeman e Phillips (2002) também expõem que o sucesso de uma organização depende de como ela se relaciona com seus stakeholders, como clientes, fornecedores, dentre outros, pois eles podem influenciar nas suas atividades. 

Nesse sentido, as práticas de ESG buscam contemplar vários stakeholders de uma organização – meio ambiente, colaboradores, fornecedores, investidores, governos -  contribuindo para a criação de um ambiente favorável tanto para sua atuação como também para a comunidade. Ao preocupar-se com causas sociais e ambientais a empresa não deixa de pensar nos aspectos econômicos, muito pelo contrário. 

Quando se fala sobre ESG, vale destacar também o Triple Bottom Line – tripé da sustentabilidade – criado por Elkington. De acordo com Elkington (2012), o tripé da sustentabilidade que engloba os pilares econômico, social e ambiental sugere que a organização possa se desenvolver e crescer economicamente, sem esquecer do tripé da sustentabilidade, e que ela se comprometa em exercer de forma responsável suas atividades.

Conforme comentamos no início do nosso artigo, o tema ESG tem sido bastante discutido nos últimos tempos, ganhando destaque em reportagens, sites, revistas e em posts de casas de research, por exemplo. A pergunta é: porque só agora vem se discutindo com mais ênfase a ESG sendo que muitas empresas adotam práticas responsáveis a décadas? 

É uma pergunta difícil de responder. As próprias pesquisas no campo da contabilidade mostram a relevância de se discutir boas práticas a muito tempo. Mas o fato é que não há mais como esperar. É importante que as empresas - não apenas grandes corporações, mas também as pequenas e médias – repensem em suas ações e como estão se relacionando com seus stakeholders. O consumidor está cada vez mais atento as práticas de consumo consciente, buscando entender a origem dos produtos e qual o impacto daquela empresa no planeta. 

Com o acesso facilitado a informação, hoje as pessoas têm o poder de escolher por marcas que fazem sentido para elas, quando se fala em propósito, legado e impacto social e ambiental. Essa nova geração de consumidores faz com que as empresas cada vez mais busquem por práticas conscientes e estejam preocupadas em se posicionar de forma ética e transparente no seu mercado de atuação.

Será a ESG uma via de mão dupla? Se pensarmos que as empesas têm a sua responsabilidade com a sociedade - preocupando-se com o meio ambiente, criando um ambiente saudável de trabalho e sendo transparente com seus investidores – e que o consumidor também tem seu papel no consumo consciente, podemos dizer que sim. Mas há um caminho longo a ser percorrido. Agora que o termo ESG “está na moda” precisamos que essa tendência se torne permanente para que possamos enxergar importantes mudanças que ela pode trazer em nossa sociedade. 

Referências 

Carroll, A. B. (1979). A three-dimensional conceptual model of corporate performance. Academy of management review, 4(4), 497-505.

Elkington, J. (2012). A teoria dos três pilares – Triple bottom line. In: Elkington, J. Sustentabilidade, canibais com garfo e faca. (p.107-137) São Paulo: M. Books.

Freeman, R. E., & Phillips, R. A. (2002). Stakeholder theory: A libertarian defense. Business ethics quarterly, 12(3), 331-349.  https://doi.org/10.2307/3858020

Moir, L. (2001). What do we mean by corporate social responsibility?. Corporate Governance: The international journal of business in society, 1(2) https://doi.org/10.1108/EUM0000000005486

Veber, C., Lengler, L., De Oliveira, J. M., Estivalete, V. D. F. B., & Kneipp, J. M. (2016). A percepção dos gestores sobre as dimensões da sustentabilidade. Revista Sociais e Humanas, v. 29(03). https://doi.org/10.5902/2317175823165

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