Brinquedos arrecadados no Encontro Brasileiro de Orquestras ganham destino
A manhã do dia 15 de dezembro de 2022 iniciou ainda no ano de 2017. Essa frase estranha precisa ser escrita assim, porque esta matéria não é apenas uma peça jornalística produzida pela assessoria de imprensa da Unochapecó: esta é uma história sobre a extensão universitária em sua forma mais plena.
Na edição de 2017 do Encontro Brasileiro de Orquestras, realizado pela Diretoria de Extensão e Educação Continuada (DEEC) da Unochapecó, mais de 600 pessoas ficaram do lado de fora do local onde as apresentações aconteciam. A plateia do Centro de Cultura e Eventos estava completamente lotada para o espetáculo e a presença massiva do público comoveu a organização.
A partir daquele ano, os ingressos para o evento passaram a ser trocados por donativos, um estímulo para reunir o encantamento da música com a vontade de ajudar a quem precisa. Nos eventos seguintes, foram arrecadados alimentos não-perecíveis e produtos de higiene e limpeza. Até que veio a pandemia do coronavírus e exigiu uma mudança de planos, fazendo com que o Encontro Brasileiro de Orquestras silenciasse por dois anos.
Em 2022, com o cenário positivo para a realização, o Encontro Brasileiro de Orquestras chegaria à sua nona edição e voltaria a acontecer presencialmente. No mês de agosto, o planejamento da edição teve início e o evento ganhou data: 18 de novembro, na reta final de mais um ano. O reencontro do evento com a comunidade acadêmica precisava ser ainda mais especial. E para quem vive a Universidade em sua totalidade, na sala de aula e fora dela, não há nada tão especial quanto tocar a realidade das pessoas ao seu redor.
Foi assim que surgiu a ideia de trocar ingressos por brinquedos e unir dois projetos de Extensão da Universidade: a Orquestra de Câmara e o Brincando no Hospital, projeto que atende às brinquedotecas de dois hospitais de Chapecó. “Pela época do ano em que o evento seria realizado, optamos pelos brinquedos, pensando também, por exemplo, na brinquedoteca do Hospital Regional, que está ocupando uma estrutura nova. Entendemos que nesse momento seria adequado contribuir com essa proposta”, explica Cleunice Zanella, diretora da Diretoria de Extensão e Educação Continuada e docente da Unochapecó.
A nona edição do Encontro Brasileiro de Orquestras foi deslumbrante. Cinco grupos se apresentaram no palco do Salão Nobre, com estilos diferentes, instrumentistas de diferentes idades e muita dedicação. Tudo isso diante de uma plateia mais uma vez lotada, o que levou à arrecadação de mais de 400 brinquedos.
>> Leia mais: Unochapecó recebe o 9º Encontro Brasileiro de Orquestras <<
Na manhã do dia 15 de dezembro de 2022, a Orquestra de Câmara da Unochapecó abriu suas partituras e se apresentou para um público diferente. Dessa vez, longe das luzes e coxias, e dentro de um ambiente repleto de cuidados, protocolos e preocupações, no Hospital Regional do Oeste e no Hospital da Criança Augusta Müller Bohner. Junto da performance, os brinquedos foram entregues aos novos donos, as crianças em tratamento de saúde. O professor Gustavo Pereira Malfatti, regente da Orquestra, não tinha ideia do quanto seria emocionante participar dessa entrega.
“Muitas vezes nos emocionamos com as músicas que produzimos. Por isso, estamos um tanto treinados a não deixar que a emoção tome vazão, até para não comprometer o resultado musical. Mas a entrega das doações, neste ano, ainda mais depois de dois anos sem a produção do nosso evento de Encontro de Orquestras, foi emoção demais para administrar. Ver o olhar encantado das crianças com os brinquedos, dividido com o olhar curioso e admirado pelos instrumentos e a música sendo tocada ao vivo e bem próximo delas foi um momento que jamais esqueceremos”, ele conta.
Para a professora Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues, que coordena o programa Brincando no Hospital, dar acesso aos brinquedos para as crianças em tratamento é um ato que simboliza a forma mais humanizada de tratar o adoecimento e todos os processos para que a cura ocorra, para no final, provocar sorrisos.
“Há 21 anos, acompanhamos a luta de crianças e adolescentes para a cura e a melhoria de sua qualidade de vida por intermédio de atividades de extensão que a Unochapecó possibilita. Esta data, em específico, é um momento simbólico de agradecer e fortalecer vínculos e afetos construídos. Representa os esforços de uma rede de pessoas e instituições que se mobilizam em prol do amor ao próximo. Não é só trabalho, é atenção, é cuidado, é carinho, é a oportunidade de dizermos ‘somos comunidade e estamos com vocês’”, reflete Lilian.
Além da doação para as brinquedotecas, que são permanentes nos hospitais, o grande número de itens arrecadados também permitiu entregá-los como presentes às crianças de forma particular. A gratidão no olhar dos pequenos e de seus familiares por um momento demonstrou a importância de unir forças para tornar um pouco mais leve um momento de vulnerabilidade. Para Cleunice, o verdadeiro espetáculo aconteceu ali naquela manhã.
“A Extensão Universitária abre portas, quebra as paredes da Universidade e faz com que nós estejamos juntos com a comunidade. Quando fomos aos hospitais e vimos as famílias acompanhando seus filhos naquele momento delicado da vida, percebemos como a entrega desse brinquedo foi significativa para essas famílias, junto da apresentação maravilhosa da nossa Orquestra dentro dos hospitais. Esperamos, nessa reta final do ano, que essas pessoas impactadas pelos projetos sigam firmes no seu propósito de vida, que tenham muita saúde, e que consigam logo estar em suas casas para usufruir ainda mais desse pequeno gesto que simboliza a Extensão Universitária”, afirma.
Por fim, Malfatti faz um agradecimento e uma projeção: de que o próximo Encontro Brasileiro de Orquestras seja ainda mais significativo. “Agradecemos ao público que nos estimula com aplausos e que, tão abnegadamente, fez a troca do ingresso por um brinquedo. Acho que todos os responsáveis por esse evento (produtores, patrocinadores, apoiadores e músicos participantes e público) terão um Natal mais significativo esse ano, com esse impacto produzido na comunidade”, conclui.