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Egressa da Uno apresenta obra sobre questões raciais na Galeria Agostinho Duarte

Cultura

Lembranças de infância podem ser poderosas âncoras que nos conectam ao passado e moldam nossa compreensão do presente. A obra fotográfica ‘Sai do sol, vai ficar preta’, que estreou na Galeria de Artes Agostinho Duarte na última sexta-feira (18/08), transporta os visitantes para o passado da artista Alessandra Favretto, egressa do curso de Jornalismo e acadêmica do curso de Artes da Unochapecó. A obra problematiza questões que iniciam na cor da pele e vão muito além.

Quando permeada por questões raciais, a infância e a adolescência geram um emaranhado de conselhos que transcendem a mera proteção solar. A lembrança de ser instruída a sair do sol para evitar a discriminação, historicamente direcionada a indivíduos de pele escura, delineia uma parte da vivência da artista como a ascendência negra. Embora essa memória possa parecer isolada, ela é profundamente enraizada em uma rede de complexas questões raciais e sociais. 

De acordo com Alessandra, o processo criativo da exposição iniciou durante a disciplina de Estética II, conduzida pelo professor Ricardo de Pellegrin. ‘Sai do sol, vai ficar preta’ é um convite à ressignificação da identidade pessoal e coletiva. A artista empresta seu corpo e sua história a um crânio tridimensional, também produzido para a exposição, dança com suas memórias, e reflete sobre o respeito. 

“Fui desafiada a elaborar uma proposta com foco na arte contemporânea. Para desenvolver o conceito da obra, resgatei memórias da minha infância, mapeei notícias pautadas no racismo, busquei inspirações estéticas e estudei sobre artistas brasileiros negros, sobre a fotoperformance e sobre questões étnico-raciais, além de criar alguns esboços. Todas essas referências foram indispensáveis na construção da identidade desse projeto. Pensando também na arte como educação e aliada das temáticas ambientais, utilizei materiais recicláveis para produzir o crânio. Foi um processo divertido e, ao mesmo tempo, de muito aprendizado”, conta a artista.

A busca por conexão entre passado e presente é uma busca pela compreensão e pela ressignificação da jornada pessoal e coletiva. Em ‘Saí do sol, vai ficar preta’, essa ligação é construída de forma extraordinária, quando a artista empresta seu próprio corpo como meio de diálogo com o crânio, um dos elementos utilizados paralelamente. Refletindo sobre sua jornada artística, a artista compartilha: a arte contemporânea, o processo é tão importante quanto o resultado. “Na ação, senti como se eu emprestasse o meu corpo para o crânio. Dancei com minhas memórias de infância, com o racismo, com a morte,  com a saúde, com o respeito e para o sol. Depois, materializei. Fico feliz por ter a certeza de que tenho ainda muito a aprender e explorar”, conclui.

Convergência

Para Alessandra, a graduação concluída em Jornalismo e a atual graduação em Artes possuem diversos pontos de intersecção, já que as duas áreas do conhecimento tratam de comunicar ideias, sentimentos e interpretações. “Se pensarmos na história, o desenho é uma das formas mais antigas de comunicação e segue presente no jornalismo por meio da caricatura, das charges e das ilustrações, por exemplo. Porém, não é a única maneira”, reflete. 

Por meio da fotografia, do cinema (documentários e outras produções audiovisuais), da música e dos programas de rádio, além do jornalismo cultural e do jornalismo literário, é possível estabelecer conexões e ganhar novas formas de observar intervenções artísticas. Essas linguagens, que permitem explorar os significados da jornada pessoal, possibilitam o atravessamento das referências em busca de uma obra própria, como ‘Sai do sol, vai ficar preta’.

“No mesmo período que cursei jornalismo, enfrentei uma situação de racismo e presenciei um amigo passando algo ainda pior. Na época, tive traumas e bloqueios. Fiquei muito abalada por não saber lidar com a discriminação. Não existe receita! Entretanto, por meio do jornalismo, pesquisei reportagens especiais e acessei informações sobre raça e etnia. Foi dessa forma que desenvolvi consciência sobre questões raciais e deixei de defender discursos que não eram meus. Foi uma oportunidade para encontrar minha identidade e trabalhar com essa temática. Já na arte, pude aprofundar meus estudos de uma outra perspectiva, focados na história da arte, na negritude, na contemporaneidade e na educação”, finaliza a egressa.

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