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Estudantes desenvolvem soluções de combate à violência contra a mulher

Inovação

Texto Ana Paula Dornelles* 

 

Em um mundo repleto de violência, a realidade pode ser assustadora, ainda mais para quem é mulher. De acordo com pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), até o fim de 2017, a cada 100 mulheres brasileiras, uma recorreu à justiça por conta de violência doméstica. Ainda de acordo com a pesquisa, só no ano passado foram mais de 388 mil novos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, 16% a mais do que em 2016. De olho nessa realidade,  quatro acadêmicos dos cursos de Ciência da Computação e de Sistemas de Informação da Unochapecó estão desenvolvendo protótipos tecnológicos voltados ao combate dessa violência. São eles: website, jogo educacional, botão do pânico e chatterbot. Os quatro projetos são Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) e buscam de uma forma alternativa auxiliar as mulheres vítimas de violência no município, com base na Lei Maria da Penha.

Os trabalhos têm, em primeiro momento, parceria da Unochapecó, Prefeitura de Chapecó, Secretaria de Assistência Social de Chapecó (Seasc), Secretaria de Comunicação Social (Secom), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) 5ª Subseção Chapecó e Comissão da Mulher Advogada. Na segunda etapa, que compreende a parte de operacionalização, também contarão com parceria da Polícia Civil e Militar, Poder Judiciário e Promotoria Pública.

Para o coordenador do curso de Ciência da Computação, professor Sandro Silva de Oliveira, essa atuação da Unochapecó e dos demais órgãos envolvidos, em prol da comunidade, é fundamental. "Além de criar essa sinergia, de resolvermos problemas sociais, eu vejo também a Universidade, por ter esse caráter comunitário, como necessária para desenvolver essas soluções. Então, essa interação social é muito importante para nós e esperamos ter outras frentes, desenvolvidas com o intuito de melhorar o dia a dia das pessoas".  

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Na visão do gerente de Políticas Públicas para Deficientes, Mulheres e Idosos da Prefeitura de Chapecó, Gilmar Cortina, é muito enriquecedor ter a participação da comunidade acadêmica na projeção dessas soluções. "Alunos dos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de Informação estão a todo vapor, com uma mentalidade voltada para o futuro, engajados nesta luta em favor das mulheres. Parabéns às universidades que tem esse olhar humano pensando sempre no bem-estar das pessoas", destaca.

 

Jogo educacional

Levar o conhecimento sobre a Lei, por meio da interação de crianças. Uma maneira dinâmica de aprender. O acadêmico responsável pela construção dessa ideia é Wesley Bonfim Sartori, de Sistemas de Informação. Sua proposta é desenvolver um jogo educacional, a partir do 'Gibi Maria da Penha na Escola', de autoria da integrante da Comissão da Mulher Advogada, Sandra Lúcia Fagundes, e com colaboração de Eldecira Rosa da Silva, Marilei Martins de Quadros e Patrícia Vasconcellos De Azevedo. De acordo com o estudante, o objetivo é ensinar às crianças sobre a Lei Maria da Penha e incentivar que elas repassem o conhecimento adquirido para seus familiares e para a comunidade na qual estão inseridas. "O Gibi ilustra ideias reais de crianças com vários perfis de famílias brasileiras que passaram ou passam por situações como essas em seus lares", comenta o estudante.

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A metodologia utilizada no jogo contém duas fases. A primeira apresenta um quiz de perguntas e respostas. Já a segunda, com letras soltas na tela, e por meio de questões, as crianças podem formar palavras referente ao tema. Para Wesley, a expectativa da ferramenta é de que as pessoas adquiram maior conhecimento sobre os procedimentos a serem tomados no caso de violência. "Espero que esse projeto possa auxiliar na divulgação da Lei e que isso sirva para conscientização das pessoas acerca do assunto", coloca.

Além do jogo do acadêmico, outro projeto também vincula-se ao 'Gibi Maria da Penha na Escola'. O objetivo deste é criar uma animação sobre a temática. A ideia está em fase de desenvolvimento pelos estudantes do curso de Design, juntamente com o professor Rodrigo de Oliveira. Um dos propósitos da atividade é que os acadêmicos envolvidos aprendam a fazer uma animação por meio de uma causa. De acordo com o professor, o trabalho é uma forma de, além de aprender técnicas de animação, entender como a lei funciona. "Como é um trabalho voluntário, tem toda uma questão de aprendizagem e de técnica, mas não se exclui o fato de aprender sobre a Lei Maria da Penha". A atividade ainda está no início e, após finalizada, o objetivo é que a animação seja exibida em diferentes espaços.

 

Botão do Pânico

Imagine poder informar as autoridades sobre uma violência sofrida com apenas um clique. Esse é o objetivo do Botão do Pânico, ideia desenvolvida pelo acadêmico de Ciência da Computação, Luis Alberto Tofoli. De acordo com o jovem, o objetivo é criar um aplicativo de um botão, que, quando pressionado, aciona a segurança pública e envia a localização da vítima. "O ponto mais impactante é a melhoria da comunicação das vítimas com a segurança pública pela agilidade, facilidade e praticidade", explica o estudante.

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Luis comenta ainda que hoje, para denunciar via ligação, as mulheres acabam enfrentando dificuldades. Com o aplicativo essa realidade mudaria. "Atualmente as vítimas precisam telefonar, falar qual é a emergência e passar o endereço. Vamos combinar que fazer isso em uma situação de emergência não é muito prático e o agressor pode perceber a tentativa de avisar à emergência e reagir de forma violenta. Mas com o aplicativo vai ser muito mais prático e discreto, simplesmente pressionando um botão", completa.

Com essa praticidade na palma da mão, muitas mulheres poderão se sentir mais encorajadas em realizar a denúncia. “Acredito que, com a denúncia estando a um toque de distância, muitas mulheres vão tomar coragem e denunciar seus agressores", finaliza Luis.

 

Chatterbot

O projeto do estudante de Ciência da Computação, Gabriel Luis Mocelin, teve início pela sua vontade de realizar algo relacionado a um robô de conversação, que utilizasse inteligência artificial. O protótipo a ser desenvolvido consiste basicamente em uma interação entre a usuária e um programa de computador, que simula a conversação entre dois seres humanos. Dessa forma, quando uma mulher buscar informações, obterá as mesmas, de forma rápida, precisa e confidencial, por meio de uma ferramenta disponível 24 horas por dia.  

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De acordo com o estudante, o protótipo tem o objetivo de auxiliar a mulher em todo o processo de denúncia. "Vai ser um jeito de ajudar ela quando não souber realizar a denúncia ou não souber onde fica a delegacia que atende esses casos. A ideia é auxiliar ela nesse processo como um todo", explica.

 

Sistema para web

Infelizmente,  nem todas as mulheres possuem total discernimento sobre a Lei Maria da Penha ou sobre a forma como recorrer à justiça em caso de violências sofridas. Pensando em auxiliar essas mulheres a encontrar todas as informações necessárias sobre o tema, o acadêmico de Ciência da Computação, Igor Felipe Boniatti, visa criar um website. "O protótipo tem o objetivo de aumentar o nível de  informação sobre questões pertinentes à violência doméstica e familiar contra a mulher, a Lei Maria da Penha e afins, além de facilitar a reintegração da vítima à sociedade, visto que essa é uma das situações mais dolorosas em que uma mulher pode se encontrar", explica. Após implementado, a ferramenta funcionará como um website público, em que os usuários poderão acessar as informações contidas nele.   

De acordo com o estudante, esse website irá possibilitar que o nível de conhecimento sobre os direitos da mulher aumentem. Além disso, permitirá um contato maior com novas oportunidades sociais, além de reintegração e ressocialização com a comunidade.

 

Importância social

A lei número 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, foi instituída em 2006 e tem como objetivo garantir proteção às mulheres contra qualquer tipo de violência doméstica, seja física, psicológica, patrimonial ou moral. Ela ganhou esse nome devido à luta da farmacêutica Maria da Penha contra seu agressor. Hoje, essa Lei tornou-se fundamental para a proteção da mulher.

Dialogar sobre esse assunto dentro das Universidades, inclusive para a construção de novas ideias que contribuam para a segurança das vítimas, é algo fundamental, que possibilita, também, melhorias para a sociedade. De acordo com o orientador dos projetos (jogo educacional e website), professor José Carlos Toniazzo, relacionar esse assunto aos protótipos em questão é de extrema relevância. "É fundamental que a tecnologia sirva como aliada para prevenir e reportar qualquer ação de violência contra a mulher. Nesse sentido, os trabalhos atuam em ambos os prismas: tanto na prevenção, quanto na coerção", pontua.

Da mesma forma que José, o professor Carlos Moretto, outro orientador das ferramentas (botão do pânico e chatterbot), sente-se feliz de poder fazer parte dessa iniciativa. "Estes projetos nos dão muita vontade de realizá-los, pois serão utilizados por pessoas que realmente necessitam desse amparo. É muito animador orientar aliando novas tecnologias à uma necessidade real", complementa.

Os projetos ainda estão na parte teórica e, neste segundo semestre, serão colocados em prática. Para os acadêmicos envolvidos já é possível entender a importância que cada uma das ideias possui e que realizá-las é algo maior do que uma conquista pessoal. É também um benefício para a comunidade. "A gente quer cada vez mais que os nossos cursos de graduação tenham projetos assim, que chamem a atenção da sociedade. Que a partir desse projeto da Lei Maria da Penha vários outros possam surgir", destaca o pró-reitor de Administração da Unochapecó, professor Jose Alexandre de Toni.

 

Realidade próxima

No mesmo ano em que a Lei Maria da Penha completa 12 anos (comemorado no dia 7 de agosto), o país - e o mundo - se deparam com casos contrários a essa celebração. De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública de Santa Catarina, de janeiro a maio de 2018, ao menos 18 mulheres foram vítimas de feminicídio no estado. E não para por aí. No mesmo período, 317 mulheres foram vítimas de estupro consumado, mais de cinco mil sofreram lesões corporais e pouco mais de 10 mil mulheres foram vítimas de ameaças.

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Para quem acompanha essa realidade diariamente, a busca por soluções que minimizem os casos de violência contra a mulher são essenciais. Para a advogada Sandra Fagundes, especialista nos direitos das mulheres e que participa do desenvolvimento dos projetos, a importância da criação dessas ferramentas está na possibilidade de fazer a prevenção da violência, tanto na área da educação, quanto do enfrentamento. "Se na escola  temos a oportunidade de conscientizar, tratar, abordar e trazer à luz um tema tão importante, então já é possível fazer a conscientização desde pequena naquela criança, naquele jovem, naquele adolescente. E na questão do enfrentamento, se a gente tem um instrumento em que a mulher pode acionar uma ajuda, certamente vamos evitar agressões mais contundentes, assim como o próprio feminicídio", coloca Sandra.

Ainda de acordo com a advogada, ter a participação de uma Universidade nesse projeto é de fundamental importância. "O nome já diz, 'Universidade', que é um momento também de transformação das pessoas, onde elas se transformam e se interiorizam. E ainda mais a Unochapecó, que é comunitária, tem um poder de disseminação muito grande dessas ideias de reeducação e enfrentamento", conclui.

E de fato, para a Uno, é um grande orgulho fazer parte desse projeto tão importante para a comunidade, principalmente às mulheres. Para o reitor da Universidade, professor Claudio Jacoski, é justamente este modelo de ações que a Instituição busca, com soluções para a comunidade, com olhar social e diferenciado. "A Unochapecó vem cumprindo ao longo dos anos com este papel de universidade comunitária, gerando soluções, tecnologias e melhorias na qualidade de vida da nossa comunidade".

 

*Estagiária, sob supervisão de Jessica De Marco
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Tecnologia
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Combate a violencia contra a mulher

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