Nova exposição da Agostinho Duarte traz artista egressa da Unochapecó
Tudo começou no Bairro Líder, na Rua Venezuela - uma via larga que faz divisa e paralelo com diversas outras ruas-países, como Bolívia, Estocolmo, Madri, Cuba, Chile e outros países que se distanciam na cartografia. A infância da artista plástica Diana Chiodelli, egressa de Artes Visuais da Unochapecó, foi nessa rua. Palco de jogos e brincadeiras entre crianças que dividiam a década, a Rua Venezuela era trajeto certo de caminhões de todo tipo de carga, inclusive carregando casas de todos os tamanhos, desfilando por entre as outras plantadas no terreno só admirando o desfile.
A cena das casas que se moviam povoou o imaginário de Diana por muito tempo, culminando em uma série de obras que, desde a última sexta-feira (16), recebem visitantes na Galeria de Artes Agostinho Duarte, no Jardim das Artes da Unochapecó. A exposição ‘Apropriações de uma casa viajante’ tem curadoria do também artista e egresso da casa, Audrian Cassanelli, e vai até o dia 04 de julho.
A artista explica que o processo criativo da exposição se construiu a partir de 2017, com um conjunto de trabalhos que nasceram da ideia de casas-moventes e da coleção de memórias. As obras também mediam a reflexão sobre a relação econômica da região Oeste, da exploração madeireira, que constrói uma estética das edificações da época, e por consequência, permite o transporte de casas inteiras.
“Eu menina, de dentro do quarto coberto de janelas, apoiada com os cotovelos no bancal daquela mais grande, fixava meu olhar nas portas e janelas da casa que andava e sumia, procurando moradores, vestígios e ruínas que pudessem descrever e decodificar a mim a memória das gentes no berço da casa. Assim, por muito tempo passou a se desenhar em mim a persona de uma coletora de memórias, que, projetada dentro das casas, coletava memórias, antes que a casa alcançasse seu destino final. Enquanto a casa se movia, minha persona fazia seu trabalho”, conta Diana.
A pesquisa para a elaboração das obras começou com a visita às casas ainda quando estavam ‘enraizadas’ no local onde foram construídas. Diana fixava câmeras em todos os cômodos da casa, de onde se pudesse observar a dinâmica do movimento. Esses registros também são parte de videoartes e videoinstalações. “Entrava em ação coletando a partir do decalque, da fotografia e do áudio, todos os elementos de memória que ainda existissem por todo o espaço da casa, enquanto ela se deslocava nas ruas por entre os carros. Ao chegar no destino final, onde a coletora de memórias se despia, deixando roupas, dispositivos e objetos dentro da casa”, explica.
Ausência-presente
Além de abranger o movimento feito pela casa enquanto estrutura física, a exposição também debate o significado atribuído de lar, de espaço de origens e de memórias que, ao mesmo tempo, permanecem e se transformam. Os laços ali criados são permeados de presenças e de ausências, à mesma medida. Habitar a casa, de acordo com Diana, é também uma dinâmica coletiva.
“A casa também marca o corpo da gente que vive nela, assim como também as gentes marcam o assoalho, a parede e a porta, com um móvel trocado de lugar, ou um rabisco de criança. Essa que apresenta-se como exposição é uma casa que guarda memórias ouvidas, inventadas, contadas e ampliadas, uma casa que busca acolher memórias e de fazer viver as que nela habitaram nesse lugar atemporal que é o seu trajeto entre carros, pessoas e casas. Porque essa exposição é o registro de tudo o que aconteceu nesse caminho de coleta, e, ainda, é a reconstrução de uma casa afetiva que convida a todos para a ocuparem”, explica.
Trazer essa exposição para a Unochapecó, habitando a Galeria Agostinho Duarte, é também um movimento que expressa coletividade e valoriza tanto espaços expositivos quanto o momento da exposição. “Trata-se de encerrar um ciclo dessa pesquisa que circulou em espaços do estado e fora dele, chegando à cidade onde a pesquisa nasce e de onde ela fala para o mundo. Sendo esse também um lugar que habitei por muito tempo - na graduação, no estágio - enquanto me construía professora-artista, e de onde penso agora, também mãe”, finaliza.