Na vasta paisagem da moda nacional, é raro encontrar um evento que funda história, experimentação e relevância com o brilho singular da Casa de Criadores, compêndio de artistas da área que debate questões como raça, gênero, inclusão, sustentabilidade e inovação. Como farol de autenticidade e criatividade não convencional, esta plataforma forja laços entre criadores, inspirações e inovações ao longo dos anos. Para os estilistas audaciosos, ver suas criações ganharem vida nesse cenário é mais que uma conquista - é uma declaração de visão, originalidade e destemor.

O professor Rafael Felipe da Silva, do curso de Moda, foi recentemente incorporado ao seio da Casa de Criadores e incorpora o espírito vibrante e pioneiro desse evento. É o primeiro representante do Oeste Catarinense no grupo. No primeiro semestre de 2023, Rafael teve a oportunidade de participar do principal desfile dedicado à moda autoral brasileira, com a coleção 'Restos de Rolo', idealizada pelo designer Giba Duarte e produzida por Rafael. A obra sintetiza a ressignificação da matéria prima vinda de restos de rolos de tecidos, materiais de desuso, doações e descartes de resíduos têxteis. 

O foco da coleção é em peças com padronagens amplas, guiadas pelos próprios materiais, além das trocas de saberes e do vislumbre de possibilidades. De acordo com Rafael, as trocas com Giba inciiaram em novembro de 2022.

"Quando iniciamos os processos de desenvolvimento, tanto eu quanto Giba tínhamos muito material, muita coisa que nos foi doada, materiais têxteis que seriam descartados, que não tinha mais um uso e uma finalidade, e quando olhamos o material que tínhamos em mão pensamos em ressignificar tudo isso e mostrar que seria possível ter uma coleção, com sua grande maioria de peças, que fossem com esse materiais que em situações normais não teriam uso, ou seriam vistos como descarte. A coleção 'Resto de Rolo' é exatamente essa costura de extremos, do leste e oeste, e nós como artistas/estilistas já distantes de São Paulo, onde o evento acontece, nos vemos como uma representatividade fora do eixo, e nos colocamos fora do eixo para nos encaixar a essas propostas todas que desenvolvemos nesse processo como estar presente, organizar todo o desfile, casting, produção e poder mostrar nosso resultado e poder colocar ele na história do evento foi muito importante", conta Rafael.

A trajetória singular do professor Rafael toma novo fôlego através de um convite que ressoa com significado profundo. Esse elo criativo foi concebido a partir de conversas com Giba Duarte, proeminente artista de Florianópolis, cujo desejo de unir as essências do leste e oeste do estado em um projeto colaborativo já ecoava há algum tempo. A semente desse encontro germinou na Plataforma Açu, na qual Giba, fundador, não apenas patrocina o desfile, mas também se engaja de maneira ativa. 

"O processo aconteceu inicialmente de forma individual. Giba com seu processo e eu com o meu, depois de um tempo nos encontramos e compartilhamos os tecidos e materiais que tínhamos, com o propósito de eu utilizar sua matéria prima, e ele a minha. Nesse momento acontece mais um desafio de um adentrar na estética e proposta do outro. Esse processo durou cerca de 4 meses. Ainda após isso, tivemos mais 2 encontros para o alinhamento de styling (que é a combinação das peças, como elas vão ser usadas e combinadas com calçado e acessórios, mais cabelo e maquiagem) e para ajustes de modo geral nas peças, e desenvolvimento de mais coisas caso fosse necessário. Basicamente usamos uma estampa cada um e cada um com sua paleta de cores (Giba com estampa de paisagem, paleta de cores tons neutros, marrom, beges e amarelos, e eu estampa floral e paleta de cores vibrante com verde, azul e rosa vibrantes", diz.

No entanto, ingressar nesse círculo seleto não é para qualquer um. O convite para a Casa de Criadores é reservado para mentes visionárias capazes de destilar algo excepcional, algo que rompa com os paradigmas convencionais. A Casa almeja ser um santuário da vanguarda, um território fecundo para as visões mais únicas da moda contemporânea. "Para mim, é um marco pessoal e profissional," reflete o professor Rafael com gratidão evidente. "É a concretização de um sonho, a chance de apresentar meu trabalho em um evento de relevância nacional, e o privilégio de ser o primeiro a representar o oeste do estado entre estilistas e designers."

O alcance dessa conquista vai além do indivíduo. Ele traça uma rota de visibilidade para os criativos do interior, muitas vezes obscurecidos pelos refletores das metrópoles. A liderança do professor Rafael inspira outros a acreditar em suas próprias jornadas e a dar forma às suas criações no coração do cenário da moda. Mas este evento é muito mais que uma celebração visual. É uma afirmação da riqueza criativa que pulsa nas veias do Brasil. Ao aceitar o desafio da Casa de Criadores, o professor Rafael responde de maneira incontestável às dúvidas sobre a existência de um olhar autêntico, qualidade estética, inovação e identidade regional marcante.

Enquanto as luzes se preparam para iluminar a passarela, o professor Rafael Silva se prepara para compartilhar uma visão singular, forjada na interseção de sonho e realidade, experimentação e autenticidade. Na Casa de Criadores, a moda transcende a tecelagem, tornando-se uma narrativa que entrelaça passado e futuro, elevando a criação à categoria de arte visionária.

* texto: Ana Ritta da Luz, estagiária de Jornalismo sob supervisão da jornalista Leticia Sechini.