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Nutrição, sistema imune e Covid-19: o que é importante saber
Em tempos de pandemia ocasionada pelo surto do novo coronavírus (SARS-CoV-2), o vírus causador da doença Covid-19, responsável por colocar a população mundial em alerta, a busca por informações sobre comportamentos relacionados à prevenção gera muitas dúvidas entre a população.
Especificamente relacionado à nutrição e alimentação, vemos muitas propagandas abordando soluções ‘milagrosas’ como forma de prevenção ao contágio do vírus. Por isso, no dia 16 de março, o Conselho Federal de Nutrição, órgão que regulamenta o exercício da categoria no Brasil, emitiu a seguinte nota: “Alimentos, superalimentos, shots, sucos e até soroterapias por infusão endovenosa de nutrientes (vitaminas, minerais, aminoácidos, antioxidantes e outros nutrientes e compostos) estão sendo alardeadas como capazes de prevenir ou combater o coronavírus por meio do fortalecimento do sistema imunológico. Entretanto, o Conselho Federal de Nutricionistas informa que NÃO EXISTEM PROTOCOLOS TÉCNICOS NEM EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS QUE SUSTENTEM ALEGAÇÕES MILAGROSAS”.
Portanto, a recomendação nutricional para este momento resume-se na mesma recomendação para qualquer período da vida, baseada no Guia Alimentar para a População Brasileira: fazer dos alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação.
Isso porque, uma alimentação rica em alimentos in natura, tais como as frutas, verduras e legumes, são ricos em micronutrientes (vitaminas e minerais), além de compostos bioativos (nutriente ou não nutriente que possui ação metabólica ou fisiológica específica no organismo humano, como por exemplo, os, carotenóides, flavonóides, as fibras, entre outros), que possuem efeitos benéficos na prevenção de certas doenças e, favorecendo a uma eficiência melhor do sistema imunológico.
Deve-se considerar que entre os vários fatores que influenciam a função imunológica, o estado nutricional possui um papel importante, principalmente porque uma alimentação equilibrada é essencial para que o sistema imunológico receba todos os nutrientes necessários para sua função. Mas, cabe lembrar que fatores como atividade física, estresse, genética, idade, estado hormonal, tabagismo e etilismo e exposição a patógenos/imunização, são fatores importantes que influenciam na função do sistema imunológico.
De forma geral, entre as vitaminas e minerais importantes para o sistema imunológico neste grupo de alimentos, estão:
- A vitamina A, que auxilia na restauração da mucosa no trato pulmonar. Pode ser encontrada em frutas e legumes amarelos e alaranjados, gema de ovo, vísceras, entre outros.
- O ferro, cuja deficiência ocorre pela ingestão inadequada, levando entre outras consequências a anormalidades no sistema imune, resistência diminuída e cansaço. Pode ser encontrado em fontes de origem animal (carnes em geral, sobretudo carne vermelha) e de origem vegetal (feijão, lentilha, grão de bico, vegetais verde-escuros).
- A vitamina B6, que apresenta diversas funções metabólicas como, por exemplo, atuando como cofator no metabolismo dos carboidratos, como coenzima no metabolismo de aminoácidos, no sistema imune. É encontrada no milho, gérmen de trigo, soja, melão, batatas, carne e miúdos como fígado, rim e coração.
- Vitamina E e selênio, que são potentes antioxidantes, diminuem o risco de contrair infecções respiratórias e protege o organismo de danos oxidativo. São encontrados nas oleaginosas (castanhas, avelã, amendoim, pistache, abacate, sardinha, semente de girassol, entre outros).
- Vitamina C, uma potente antioxidante, que auxilia na melhora da função imune. Encontrado nas frutas em geral, laranja, goiaba, kiwi, morango, melão, entre outras.
- Vitamina D, auxilia no sistema imunológico por meio do estímulo a produção endógena de catalecidinas. Pode ser obtida pela irradiação ultravioleta (expondo-se ao sol), em produtos comerciais e, em alimentos, é encontrada em peixes gordurosos, óleo de fígado de bacalhau, atum, cação, sardinha, gema de ovo, manteiga e pescados gordos (arenque).
Vale lembrar que a alimentação saudável constitui-se no conjunto de alimentos ingeridos, ou seja, na diversidade alimentar presente na rotina dos indivíduos e, não de alimentos de forma isolada (principalmente os que apresentam promessas milagrosas).
Por isso, a avaliação das necessidades nutricionais e a prescrição de um planejamento alimentar deve ser orientada de forma individualizada e de acordo com o estado nutricional do paciente e necessidades nutricionais.
Por fim, como bem salienta a nota do Conselho Federal de Nutrição, a adoção de tais hábitos não nos exime da responsabilidade de adotar as medidas preventivas recomendadas pelos órgãos competentes relacionados à pandemia.
Professora Viviane Lazzari
Referências bibliográficas:
Recomendações do CFN boas práticas para a atuação do nutricionista e do técnico em nutrição e dietética durante a pandemia do novo coronavírus (COVID-19 Conselho Federal de Nutricionistas. ). 3a edição revisada e ampliada. Disponível em: https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2020/03/nota_coronavirus_3-1.pdf, Barreto, B. A. P.; Moura, C. A. F. Imunidade. In: Pimentel, C. V. de M. B.; Elias, M. F.; Philippi, S. T. Alimentos funcionais e compostos bioativos.1ª. ed. Barueri (SP): Manole, 2019.